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  • Foto do escritorCristiana Pina

A voz por detrás de um microfone

Atualizado: 2 de jun. de 2020


Sofia Venâncio durante uma emissão na Rádio Elmo

“Há dois meses que estou a trabalhar praticamente sozinha”. O relato é feito por Sofia Venâncio, jornalista numa rádio local de Pinhel, e que de um momento para o outro foi obrigada a trabalhar sozinha. Tudo aconteceu a 12 de março, altura em o primeiro ministro António Costa anunciou que “as pessoas com filhos com menos de três anos ficariam de apoio à família porque as creches iriam fechar”. Assim, e de um momento para o outro, uma equipa de três pessoas ficou reduzida a uma, por força das circunstâncias excecionais que o país atravessava.

Hoje, apesar do trabalho acumulado, sente que está a cumprir bem a sua função. “É gratificante, sinto que estou a cumprir bem a minha missão de informar e tento estar sempre em cima do acontecimento, e cobrir assuntos que não tem só a ver com a Covid-19, como por exemplo ações de sensibilização da GNR”, diz. Jornalista radiofónica há oito anos na empresa de comunicação Rádio Elmo, Sofia sabe do papel importante que tem neste momento, sobretudo para a população idosa que acompanha a rádio diariamente. “Muitos deles [os nossos ouvistes] preferem ouvir as notícias da região por uma voz conhecida, do que ligar a televisão”, afirma. Assumindo de seguida, que a principal dificuldade que encontrou “foi transformar a temática da Covid-19 em informação”, e perceber quais eram os dados verdadeiros, no meio de muitas notícias falsas que foram divulgadas.


“Ao longo do tempo fomos percebendo que muitas das coisas que eram ditas nas redes sociais e por alguns meios de comunicação não correspondiam à verdade”, afirmou.


Acrescentando que houve vezes em que era difícil encontrar uma fonte credível na área. “Este era um trabalho completamente diferente” porque era uma situação nova com a qual ninguém havia ainda lidado. As rotinas da rádio também se foram alterando com a evolução da pandemia, sobretudo para assegurar a segurança das duas funcionárias que estavam ao serviço: “eu tenho um computador e um microfone, e antes isto não acontecia”, refere. Neste momento “para não nos cruzarmos tanto e não entrarmos em contacto uma com a outra trabalhamos em estúdios diferentes”, revela. “Na maior parte do tempo eu estou no estúdio de informação e ela no de animação”, afirmando que quando tem que se cruzar “cada uma tem o seu instrumento de trabalho”, relata.


Fonte: Sofia Venâncio
A pandemia da Covd-19 obrigou a uma reformulação do estúdio da Rádio Elmo

Para Sofia, toda esta situação está a ser um desafio, tanto a nível pessoal como a nível profissional porque sente que neste momento tem um papel muito importante que é o “informar muito e bem” para que quem a esteja a ouvir do outro lado da rádio não fique com nenhuma dúvida acerca dos cuidados que deve ter. Nesse sentido, a jornalista admite que neste momento tem muito mais cuidado aquando do tratamento da informação.


“Tenho que ter muito mais cuidado, tenho que fazer muito mais pesquisa acerca do que vou falar”, explica.


E apesar de este ser o principal papel do jornalista no seu dia-à-dia”, o facto de lidar com um público mais idoso faz com que tenha que ter mais cuidado a redigir a notícia porque a rádio assume o papel de levar a informação a quem não tem acesso a ela de outra forma.


E dá o exemplo das dúvidas que os ouvintes da rádio tem quando ligam para a mesma. explica. A jornalista relata também um episódio muito específico que demonstra bem a importância da rádio regional para quem ouve. Uma situação onde um “idoso que tinha tido contacto com uma pessoa com Covid-19”, e como não sabia o que fazer ligou para a este meio a pergunta como devia agir.



Neste sentido, a jovem relata que aproveita os espaços informativo para alertar a população. Quais são os procedimentos a adotar em caso de sintomas, e quais são os cuidados a ter com a higienização das mãos e demais produtos são algumas das mensagens que faz questão de passar diariamente. “Aos microfones da rádio eu tinha a missão de passar a mensagem, que muitas pessoas com conhecimentos não tinham”, afirma.


O futuro da rádio, e dos meios de comunicação em geral também é uma preocupação desta profissional de comunicação. “Preocupo-me, porque na situação desta rádio foram duas pessoas que ficaram de apoio à família, e posteriormente a rádio teve de contratar outra pessoa, e neste momento está com mais encargos”, revela. E por outro lado, a publicidade que era uma das maiores fontes de rendimento, caiu.


“As rádios locais vivem de publicidade, e se as iniciativas não ocorrem não há publicidade”, pormenoriza. E ao contrário de outras empresas, “os jornalistas regionais tem trabalho”, a covid-19 e as “implicações que tem na economia local e regional”, são alguns dos temas explorados diariamente.


A publicidade, como se sabe, é uma das principais fontes de rendimento de qualquer órgão de comunicação, porém numa rádio regional estas receitas ganham ainda mais importância. Neste sentido, Sofia é da opinião que o Estado devia criar medidas próprias de apoio às rádios regionais, porque foram estas que mais sofreram com a pandemia.


“Criar uma candidatura para ajudar as rádios a adquirir material para os seus colaboradores puderem trabalhar a partir de casa”, por exemplo. Se a Rádio Elmo tivesse equipamentos para as pessoas terem acesso ao teletrabalho não teria de estar eu a trabalhar dois meses sozinha”, afirma.


Nesta sequência, e dado que a publicidade é uma das grandes fatias das receitas dos meios de comunicação, a comunicadora sugere que “Estado pudesse comprar publicidade para as rádios locais”.


Sofia, a fazer reportagem na edição da Feira Medieval de Pinhel Fonte: Página do Município de Pinhel

“Se me assusta o futuro da rádio? Claro que sim” diz. E exemplifica, dizendo que enquanto “a rádio comercial ou a RFM”, emitiam em regime de teletrabalho com apenas “uma pessoa em estúdio”, “nós aqui” não conseguimos. E facto de ver o teletrabalho como uma opção viável no futuro deixa-a preocupada em perceber como “é que as rádios locais, com menos meios financeiros” vão conseguir dar a volta à situação.


"Futuramente, das duas uma ou as rádios tem capacidade económica para se adaptar aos novos tempos, ou muitas delas não vão conseguir resistir”, lamenta.


A vida está lentamente a regressar a um novo normal, o desconfinamento está a ser levantado aos poucos. “As pessoas já retomaram ao trabalho, os serviços já começam a abrir, e mesmo com medo e de máscara, as pessoas já andam mais na rua”. Antes de terminar a entrevista, Sofia deixou uma mensagem de esperança para o futuro que aí vem.


“Os tempos mudam, mas a nossa maneira de ser não vai mudar totalmente. Por exemplo, eu tenho o mesmo cuidado que antes tinha em relação às entrevistas, ou seja, a querer obter a informação por parte do entrevistado. Não muda sempre tudo, observa.”


A última fase de desconfinamento terminou a um de junho, e o país habitua-se agora a viver numa nova realidade e a conviver de uma outra forma.


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